Editorial
Sede por informação
É praticamente impossível alguém ter circulado pela internet no último mês e não ter se deparado com alguma teoria da conspiração envolvendo o suposto sumiço da Princesa de Gales, Kate Middleton. A esposa do próximo rei da Inglaterra, Príncipe William, esteve internada um tempo atrás e desde então não havia sido vista. A falta de informações levou a milhares de teorias jogadas ao vento na rede. Na sexta, porém, a própria Kate, após semanas de especulações, veio a público explicar: está com câncer e recolhida para fazer o tratamento.
Desde que o mundo é mundo, fofoca é assunto. A vida alheia interessa e é por isso que as redes sociais se tornaram tão massivas. Antes disso, porém, a fofoca se tornou também um gênero jornalístico. Evoluiu junto com a comunicação em massa e nem precisamos mudar de família para lembrar o horror que foi toda a cobertura dos paparazzi durante os anos 80 e 90 em tudo o que tangia a vida da também princesa Diana, mãe de William. Ela morreu em um acidente em que seu motorista, em alta velocidade, tentava despistar uma multidão de fotógrafos que buscavam um clique perfeito dela para estampar algum tabloide britânico.
No mundo em que vivemos, a própria imagem se tornou produto. Hoje, influenciador digital é uma das profissões mais rentáveis. Ao falar com a criançada, a atual geração cita as novíssimas profissões de influencer, youtuber, streamer, etc. antes mesmo que os clássicos ator, atleta, médico ou astronauta. Só que, na lei natural das coisas, essa oferta gera demanda e cada vez mais a privacidade deixa de existir. Tornar-se pessoa pública hoje é precisar alimentar uma multidão de curiosos com migalhas de stories, reels e afins.
Em muitas frentes, a demanda pelo gênero “gossip” cai muito mais no gosto que pela informação real. Parte da eterna crise da imprensa tradicional passa por isso. Porém, se os veículos se curvarem a alimentar essa necessidade pelo fútil e supérfluo, o que resta? Quem exerce o sempre esperado papel fiscalizatório e de checagem que é esperado da mídia?
Os tempos mudam constantemente e, como todos, o jornalismo precisa refletir para onde está indo. Em situações como essa, em que a fofoca se torna muitas vezes mais rentável e mais comercializável do que a informação bem trabalhada, é digno de elogios ver que muita gente ainda luta por essa dignidade.
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